quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Jovem que faz a diferença

A falta de tempo me deixou ausente por alguns meses. Mas como diz o ditado, o bom filho à casa retorna. Abaixo, algumas de muitas recentes conquistas. Na integra, o meu discurso, após receber a Láurea -"Jovem que faz a diferença"!

Talvez a minha história tenha chegado até aqui, pelo simples fato da vocação e devoção ao cinema. É claro que foi por este caminho, que tantas coisas boas aconteceram. Eu sempre me cobrei desde muito pequeno, a responsabilidade profissional. E como ainda muito criança, na escola, sem poder trabalhar, me envolvia com o grêmio estudantil, a criação de um jornal mensal e outras atividades similiares. O cinema apareceu logo depois, aos 12 anos de idade. Influenciado naquela época pela trilogia dos filmes Pânico, do diretor Wes Craven, veio a nascer meus primeiros roteiros. E eu era daqueles cinéfalos vidrados em filmes de terror. Eu não comecei asstindo "Cidadão Kane", "O poderoso chefão" e outras obras importantes da história do cinema.
Eu comecei do avesso, gostando do terror, do suspense ou do trash. Mas o importante foi que eu comecei. E que as coisas começaram a dar certo. Aos 16 anos, em 2003, resolvi que era hora de por o plano em prática. Que era hora de produzirr. O jeito foi compartilhar minha pretensão maluca com os amigos mais chegados, aqueles que te acompanham em tudo. Juntamos um boa galera e fomos a luta. De espada a armadura. Com 300 pila no bolso e um cinegrafista de uma pequena produtora,fizemos o filme acontecer. Jamais irei esquecer a imensa fila no dia do lançamento, que dobrava duas quadras da Praça Matriz de São Luiz Gonzaga. Jamais vou esquecer também das críticas após a exibição, é claro. Eram mais críticas, do que elogios. Eles falavam que nos meus filmes os "mortos se mexiam", de que "a luz está escura" ou "que a história um pouco confusa". Foi aí que descobri a dura realidade que acabara de me lançar.

No ano seguinte, fiz o segundo filme, intitulado “Jovens em Pânico”, uma seqüência de O Quinteto, agora, com duas produtoras envolvidas e mais gente no elenco. É claro que depois do primeiro, as pessoas viram que a coisa não era brincadeira e que iríamos continuar. Bonito foi ver as crianças acompanhando a seqüência do filme, querendo saber sobre o futuro dos personagens, se iriam sobreviver ou como iriam ficar. A ideia estava dando certo. E deu tão certo assim, que outros aspirantes de cinema começaram a seguir a idéia e a produzir mais filmes também. Surgiram outros longas e curta por toda região. Tanta gente querendo aprender o ofício. O mais engraçado, era que nenhum de nós tínhamos cursos técnicos. Aprendemos sozinhos. E o mais magnífico: todos éramos jovens.

Após estas duas experiências, deixei de lado um pouco o gênero terror e suspense, e comecei a escrever outras obras. Eu pensava: eu quero ser cineasta. Quero ter idéias, quero passar mensagem e emoção. Só não quero passar em branco. Quero trabalhar em equipe. Quero me virar com pouca grana. Quero mudar a história. Só não quero de deixar de me transformar. O problema em me tornar um cineasta, era ausência de um curso nesta área na região. Por este motivo, fiz vestibular para Publicidade e Propaganda e descobri o gosto pela escrita. Em agosto de 2004, ingressei na redação do Jornal A NOTÍCIA. E como qualquer iniciante, achava que em algum momento poderia ser demitido. Era uma neura braba, medonha. Me achava jovem demais e como iniciante, tinha grandes planos de seguir carreira e os medos em torno dela eram inevitáveis. Recordo que na primeira semana, quando fui chamado até a salinha de pagamento, fiquei surpreso, sentindo cheiro de demissão no ar. Recebi o dinheiro e por entendimento tinha certeza que havia sido demitido. Fiquei calado, desliguei o computador e fui embora. Chegando em casa, quase aos prantos, resolvi ligar para um dos colegas da redação, na tentativa de descobrir o que aconteceu. Foi então que descobri o grande mal entendido. Todos os funcionários de A NOTÍCIA recebem o salário no final da semana. A partir dali, era hora de aprender a ter mais confiança e exercitar toda esta paixão pela escrita através das reportagens. Eu jamais imaginei me tornar repórter de um jornal. Meu sonho sempre foi trabalhar com vídeo, criação, imagem, cinema.
Mas acabei caindo de pára-quedas no jornalismo. E hoje, devo todas as minhas conquistas a este emprego e aos profissionais que trabalham lá. Me permitam destacar cada um deles. Meus chefes, não são chefes que se encontram por aí, ralhando, dando sinais de autoritarismo ou soberba. Meus chefes são profissionais que te permitem avançar ao lado deles, com liberdade para se expressar, modificar e crescer. José Grisolia Filho e Newton Alvim me acompanham diariamente nesta loucura que é fazer jornal. E esses dois"são grandes incentivadores dos jovens em São Luiz Gonzaga.


E por acreditarem tanto em mim, que outras oportunidades começaram a surgir. A convite da repórter Juliana Sott, em 2006, me tornei instrutor do curso de cinema, pelo Ponto de Cultura ACI- Ação Cultura Integrada. Com uma câmera na mão, o acesso ao audivosual em São Luiz Gonzaga ficou mais fácil. Com 12 alunos inscritos de 11 a 29 anos de idade, a democratização começou a acontecer na região das missões. Surgiram curtas, reportagens e até mesmo videoclipes, como o "Baile de Fronteira", de Luiz Carlos Borges, que acabou selecionado na Mostra Nacional dos Pontos de Cultura, em Santa Maria. E de uma conquista aqui e outra conquista alí, talvez, a maior delas, apareceu repentinamente. Foi quando fui selecionado em uma oficina do Canal Futura, pela Fundação Roberto Marinho. Ao escrever um projeto de "realização de um festival de cinema nas missões", para São Luiz Gonzaga, é que fiquei entre os 15 jovens do Brasil selecionados na 10º turma do Geração Futura. Durante um mês produzi um interprograma no Rio de Janeiro, na sede do canal, chamado "10 segundos na TV", que posteriormente foi selecionado no Festival de Cinema em Fortaleza. Em seguida, a convite do Canal Futura, retornei ao Rio de Janeiro e me tornei monitor do projeto em um período de estágio de 4 meses, com carteira assinada.

Retornado de viagem, e com mais experiência, conheci um casal fantástico de são-luizenses, também apaixonados pela sétima arte: Vânia e Darceli Crestani. Ele, que foi protagonista do curta- metragem "O Caso Sócrates", selecionado o ano passado na mostra não- competitiva do Gramado Cine Video. E Vânia, protagonista do "SOS". Com eles e mais outros amigos é que começamos a projetar a nossa cidade, nas telas de Gramado, mesmo sem competir. E este ano, depois de muito esforço, conseguimos uma grande vitória. A vitória que veio graças ao trabalho da ONG Síndrome de Down, "Unidos para o Amanhã". Com um documentário sobre a história destas crianças, ganhamos o Galgo de Ouro 2009, como melhor video universitário gaúcho, eleito pelo voto popular, na categoria mais disputada do festival. Este troféu é uma conquista conjunta, porque nada se faz sozinho. O cinema é assim. Na hora de produzir, a gente acaba envolvendo todo mundo. Até mesmo o vizinho. Todos fazem cinema inconscientemente. E é por isso que fica difícil de agradecer todo mundo. São tantas pessoas que já passaram pela minha história. Sem elas, chegar até aqui seria impossível. A minha mãe, por exemplo, é uma delas. Se hoje sou um jovem com ética, valores morais e com a coragem para lutar e buscar aquilo que acredito, os méritos também são seus, mãe.

No próximo final de semana, estarei rumando ao Haiti, para produzir um documentário de conclusão de curso, sobre a Missão de Paz da ONU, do Exército Brasileiro. Como jovem, tento esquecer o medo, e procuro colocar na bagagem desta experiência, muita coragem. Nosso objetivo maior de vida deveria ser: criar tanto quanto o nosso talento, habilidade e desejo permitam. Qualquer coisa abaixo disso, estará falhando em nosso mais elementar princípio de uma existência realizadora. Resultados são a melhor medida do progresso humano. Nem conversa, nem explicações, nem justificativas, APENAS RESULTADOS!
O que devemos fazer é transformar nossa vida, nossos sonhos e objetivos, num destino final, como se fosse o fim de uma viagem. Só que não é o final de uma viagem em que descemos do trem e então vamos desfrutar do cenário. É o percurso que conta. É um processo em que não deve existir partida, viagem e chegada, mas ser encarado como um todo. Por essa razão é que paixão, determinação e entusiasmo são tão importantes para nos abrir as portas para a felicidade e realização.
E cada desafio que se apresenta é uma nova possibilidade de exploração e uma nova oportunidade de realização na viagem que estamos fazendo. O que conta mesmo é o quanto você curtiu, o quanto ela benificiou para as outras pessoas e para o lugar onde você mora. Pois a viagem, terminará de um jeito ou de outro. A grande impossibilidade está em nossa cabeça. É por isso que é preciso mudar o mundo, para que o mundo mude para você.


Para concluir, deixo uma mensagem do pensador "Jacob Riis", a todos os jovens são-luizenses. "Quando nada parece ajudar, eu vou e olho o cortador de pedras martelando sua rocha talvez cem vezes sem que nem uma só rachadura apareça. No entanto, na centésima primeira martelada, a pedra se abre em duas e eu sei que não foi aquela a que conseguiu, mas todas as que vieram antes." Obrigado!