quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Era uma vez numa cidade maravilhosa...

Esqueça o que os jornais estão dizendo. Evite os noticiários ruins na televisão, não de bola para o sensacionalismo que insiste em transformar a imagem do Rio de Janeiro em sinônimo de violência e bandidagem. Agora não esqueça, não evite e dê muita bola. Permita conhecer a civilização da cidade maravilhosa. Descubra no carioca, a malandragem que te faça sorrir noite e dia, a hospitalidade que te surpreenda em uma época de guerra de valores, em que tudo é dúvida. Não sei se eu tive a sorte de topar com tanta gente legal, em julho(2007), dezembro a março de 2008, quando estive estagiando no Canal Futura, na capital do Rio. Ou se a estadia na cidade maravilhosa me fez descobrir tanta gente bacana por aí no Brasil. A história começou em julho de 2007, com o Geração Futura. Mas este capítulo fica para uma próxima postagem.

Saudosos moradores do Rio de Janeiro. Basta ouvir as conversas cariocas no bar sofisticado como a do botequim pobre e sujo, por isso mesmo sofisticadíssimo, a do living-room granfa, a da bohemia, a da praia e do agito total da Lapa. É o humor, a graça, a aventura e a saudade a ser lembrado. Aquele gaúcho que chegou para ficar no bairro do Rio Comprido, Zona Norte do RJ, de mala e cuia, sem teto próprio. Claro, porque as possibilidades eram tantas. Fui recebido pela segunda vez com tanta alegria que me senti em casa. De passagem, não queria incomodar ninguém por muito tempo. E como seriam quatro meses morando no Rio, eu necessitava de um teto, é lógico.

Foi então que me instalei em um conjugado, que na minha concepção estava mobiliada a minha espera. Quando cheguei, avistei a peça vazia, sem cama, sem sofá, sem TV, sem nada. Era eu e a peça. À noite e a chuva. A raiva e o riso. E a cidade maravilhosa. Passei uma noite inesquecível. Detalhe: não queria incomodar ninguém. Poderia muito bem ter ligado para os meus amigos. Só que estava achando aquilo divertidíssimo. De verdade, principalmente porque a minha independência gritava. No outro dia, já conhecia a vizinhança e numa boa recepção, em uma semana o meu pequeno AP já estava mobiliado. Eram os cariocas que haviam montado para mim.

Mas esta solidariedade indiscutível não foi somente o que me trouxe até aqui para escrever sobre eles. A boemia, é claro, também nos faz lembrar. Foram tantos finais de semana curtidos nos arcos da Lapa. Aquele som misturado, com todas as tribos e culturas. Dias em claro, nas pedras do Arpoador. Nada mais bonito que aquela vista. Ver o sol nascer nas pedras do Arpoador ao lado de grandes amigos não tem preço. Dormir nas areias de Ipanema depois de uma grande festa, mais ainda! Conhecer o Cristo Redentor, o aterro do flamengo, tomar banho de cachoeira na Floresta Tijuca e vários outros programas como um típico turista . Pular o carnaval na Sapucaí sem ter hora para voltar para casa; E assistir de perto o lindo reveillon em Copabacana, ao lado da carioca que deixou os amigos para mostrar o melhor da cidade em plena virada de ano. Sim, passei o natal e o reveillon sem minha família, mas posso confessar que ganhei uma segunda. Esta galera me acolheu e sou grato a todos vocês. Minha vida inteira em tão poucos dias valeram por momentos que duraram o tempo necessário!

Esta hospitalidade fora do normal, este jeito de levar a vida na graça e na folia, apesar do ritmo frenético e alucinante da cidade, vão ficar guardados na memória. Seus filhos da mãe! Vocês são foda! Só mais uma coisa. Quero deixar registrado a admiração que o povo carioca tem pelo gaúcho. Eles nos admiram pela paixão que temos pela terra, pelas nossas tradições. Muitos deles sonham em morar no Sul. E que esta paixão sirva para o gaúcho admirar o carioca da mesma forma. Cada um de vocês que eu conheci, me fizeram querer e desejar voltar mais vezes ao Rio de Janeiro, seja para passear, morar, relembrar os velhos tempos ou para criar mais um Era uma vez. Filhos da mãe... tenho saudade de vocês! Porra!!


quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Eu faço cinema!

Queria contar nos dedos às pessoas que fazem com paixão e vivem a maior parte do seu tempo dedicados a uma determinada profissão. Eu, particularmente, exerço múltiplas funções. Sou estudante, repórter, editor e aprendiz de cineasta. Esta última, a mais importante, sem sombra de dúvida. Mas prefiro levá-la como atividade prazerosa, do que considerá-la uma profissão. Afinal, fazer cinema é como se fosse um lazer para mim. Poderia deixar de almoçar, sair com os amigos, dormir, beber... para pegar uma câmera e filmar aquela história que projetei na escrita. E esta paixão começou desde cedo. Mas saibam que não se trata de uma paixão passageira, destas de amores que vem e vão ou considerações que se perdem com o tempo. É uma paixão que vou levar para a vida toda.

Faço cinema sim, desde os meus 15 anos. E comecei a gostar desta atividade, quando me tornei fã número da famosa série Scream - Pânico, do mestre Wes Craven. Não é atoa, que o “O Quinteto”, meu primeiro filme e longa - metragem tenha sido inspirado nesta obra. Quero lembrar a todos, que moro na fronteira, bem no interior do RS. Naquela época, em meados de 2002, não existia profissionais da área e as gravações eram todas feitas em VHS. Quando me posicionei frente aos meus colegas e conhecidos, decidido que queria filmar um filme em São Luiz, pode-se imaginar que todos eles não acreditariam que isso seria possível. Louco, sonhador, maluco, desocupado. Do que mais me chamaram? Se você foi um deles, tente me recordar dos tantos nomes.

Na verdade, era uma idéia ousada sim, mas não impossível. O que é impossível?
O jeito foi compartilhar minha pretensão maluca com os amigos mais chegados, aqueles que te acompanham em tudo. Juntamos um boa galera e fomos a luta. De espada a armadura. Com 300 pila no bolso e um cinegrafista de uma pequena produtora, o “Carlão”, fizemos o filme acontecer. Jamais irei esquecer a imensa fila no dia do lançamento, que dobrava duas quadras da praça central de São Luiz Gonzaga. Jamais vou esquecer também das críticas após a exibição, é claro. Eram mais críticas, do que elogios. Foi aí que descobri a dura realidade que acabara de me lançar.

Fiz o segundo filme, “Jovens em Pânico”, uma seqüência de O Quinteto, resguardando os sobreviventes do primeiro filme nesta continuação. Agora, com duas produtoras envolvidas e mais gente no elenco. É claro que depois do primeiro, as pessoas viram que a coisa não era brincadeira e que iríamos continuar. Bonito foi ver as crianças e alguns jovens acompanhando a seqüência do filme, querendo saber sobre o futuro dos personagens, se iriam sobreviver ou como iriam ficar. A minha idéia maluca estava dando certo. E deu tão certo assim, que outros aspirantes de cinema começaram a seguir a idéia e a produzir mais filmes na cidade. Surgiram mais longas em São Luiz, curtas em Santo Antônio das Missões e região. Tanta gente querendo aprender o ofício. Magnífico. Fico orgulhoso de ter me tornado o pioneiro do cinema na região das missões ou até mesmo do Sul, se tratando de longa – metragem ou pelo simples fato de ser um jovem.

Tempo passa.. entrei para faculdade de publicidade e acabei aprendendo um pouco da área. Faz sentido, porque é uma profissão relacionada de alguma maneira com o cinema. Me tornei instrutor do curso de audiovisual na cidade, a convite dos coordenadores do Ponto de Cultura e começamos a produzir mais e mais. Agora com muito mais maturidade e idéias elaboradas, visões de mundo e leitura.
Mas aonde eu queria chegar com a postagem de hoje era exatamente no nosso último filho do cinema : “O Caso Sócrates”, um roteiro que havia inscrito há quatro anos e só pude realizá-lo nestes últimos meses. E não é que o projeto engavetado saiu da gaveta e rendeu bons frutos? Na última semana, ele foi exibido em um dos mais importantes festivais do Brasil, o 36º Festival de Cinema de Gramado, sendo classificado na mostra não competitiva da AGAUVI. Daria para imaginar?


Isso é só o começo. Temos muito que aprender. As maiores obras pertencem aqueles que se atrevem a passar noites em claras, finais de semana de trabalho e dias e mais dias estudando para ver seus planos se concretizarem. Porque cinema é isso. É envolver pais, amigos, vizinhos, é trabalhar em equipe e valorizar as coisas simples. Inconscientemente todos ao meu redor, fazem cinema . E nada mais gratificante do que você conseguir mostrar que as possibilidades mais impossíveis podem se tornar reais. E eu agradeço à todos aqueles que participaram comigo destes projetos, sem vocês eu não seria nada!
Às vezes, as pessoas não executam algum plano porque imaginam que jamais conseguiriam. Mas a gente pode mostrar exatamente o contrário. Geralmente podemos e tentar fazer é o mínimo que devemos esperar de nos mesmos. Eu faço cinema galeraaa, e com paixão...sempre
!

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Tempos de escola...

Atire a primeira pedra quem discorde que os tempos de escola não estão entre os melhores momentos da nossa vida? Os primeiros amigos, os primeiros amores, as primeiras conquistas, dificuldades, lutas, decepções, aquela sensação de liberdade, ou que o tempo parou para você ser quem você quiser, sem preocupação ou compromisso algum.
É claro que nem todo mundo mantém boas lembranças em tempos de escolas. Não é o meu caso. Poderia passar horas descrevendo tudo que vivi desde o primeiro dia que coloquei os pés na escola, até o momento em que recebi o canudo de conclusão. E olha que a gente só guarda na memória as boas lembranças, ou aquilo que nós doutrina como algo marcante e imortal. Como disse um amigo meu, lá do Rio de Janeiro, tentando explicar coisas do tipo: porque o cérebro armazena apenas algumas coisas? A resposta: seja na aula, na rua, no trabalho, ou em uma palestra que você está assistindo. Jamais anote nada em um papel, achando que um dia vai ler para recordar ou se importar. Afinal, é a cabeça que guarda o que achamos importante. E o que é importante, é o que vale para o ser humano. Faz sentido.

Eu, particularmente, sempre fui um tipo de aluno... diferente. A escola inteira achava que eu era um bacaca, metido a besta e filinho de professora. Ahh este “mal eu sofria”, ser filho de professora. Fui condenado até o último dia de aula e as frases martirizadas eram sempre as mesmas: ai, porque ele filho de professora e pode fazer aquilo, ai porque o filho da dona cleni(nome da minha mãe”) tem que ser um exemplo para todos. Coisa da cabeça deles, rs! Odiava ser tachado por isso. Até porque eu poderia me aproveitar desta situação em vários momentos. Mas tava nem aí.. Meus dias de escola eram dedicados a fazer acontecer ao lado dos meus amigos.

Para quem não sabe, Rui Barbosa era o nome da minha segunda casa. Foi ali que aprendi a ser gente. Aos seis, aos sete, aos oito... nesta fase eu conheci os amigos com quem eu dividiria tudo que a infância poderia oferecer de melhor. O quarteto inseparável: Alex, Glauco, Ricardo e Maurício. Impossível não citar o nome de vocês. Desde pequeno nós já éramos líderes natos, movimentando a sala de aula e a escola, com as nossas invenções malucas. Até um casa em um árvore a gente construiu. Isso já aos dez, aos 11, aos 12, o chamado clube “Mortal Kombat”. Jonny Cage era o meu personagem. Ilário!

Não bastavam estas invenções, queríamos registrar nossas idéias e ganhar dinheiro com elas, é claro, através de um jornalzinho estudantil. Lembram? Vendíamos o dito cujo por toda a escola. Às vezes aproveitávamos à boa fé dos professores e a comercialização era feita em horário de aula. Uma gazeação politicamente correta. Depois de jornaleiros, nos tornamos conhecidos por toda a escola. De líder de sala de aula, para integrantes do Grêmio Estudantil, mas isso é outra história...

Aos 13, aos 14, aos 15. Ah..nossos primeiros amores. A primeira namoradinha, as festas juninas e as confusões por causa “delas”. Foram tantas! A turma ia aumentando e o engraçado que a gente nunca se separava. Éramos unidos ao extremo. Mas como nem tudo era pra sempre, os amigos iam se renovando, enquanto outros partiam. Era uma época de descobertas, queríamos experimentar a liberdade e defender nossas idéias a todo custo. Neste tempo, fomos chamados de ovelhas negras da escola. Bardeneiros. Enquanto alguns nos detestavam, outros nos admiravam, ou ficavam na defensiva.

Aos 16, aos 17. Tantas recordações. Queria poder reviver cada uma delas. Quando chegou o terceiro e último ano de aula, parece bobagem. Mas ninguém queria que o ano acabasse. A união da turma 303 não se explica aqui. Só quem foi professor ou integrante desta sala de aula sabe do que estou falando. Não havia divisões de grupos. Éramos amigos para toda obra. Seja para bater panela na frente da escola ou simplesmente para uma festa, um trabalho em grupo.Tempos de escolas são para sempre, se é que esta palavra existe. Em 2010, a turma 303 do qual eu estou falando, estará novamente reunida. A maioria destes ex - alunos estarão com uma profissão engajada, outros com filhos e a maioria com grandes histórias para contar. Nao preciso dizer que será um grande encontro. Ainda bem que existem as fotos, os cadernos, os presentes de recordação de cada época. Mas mesmo se isso um dia acabar, ainda teria o cérebro pra relembrar. Realmente, os bons momentos são bem guardados, não importa o quanto tempo durem. Eles sempre irão existir. Enquanto houver lucidez, é claro!